Chile x União Soviética - Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1974

As eliminatórias para a Copa do Mundo de 1974 corriam em sua total normalidade. Alemanha Ocidental e Brasil já estavam classificados para o torneio por serem o país sede e os defensores do título, respectivamente.

No total restavam 14 vagas sendo divididas da seguinte maneira: UEFA: 8,5 vagas foram disputadas por 32 times, a última vaga seria disputada contra um representante da CONMEBOL; América do Sul CONMEBOL: 2,5 vagas seriam disputadas por 9 times, a última vaga seria disputada contra um representante da UEFA; CONCACAF: 1 vaga disputada por 14 times; CAF: 1 vagas disputada por 24 times; AFC e OFC: 1 vaga disputada por 18 times.

O "gol fantasma" de Valdez

Nas eliminatórias sulamericanas as seleções foram divididas em 3 grupos, sendo dois grupos com três seleções e um grupo com duas. Deste último sairia o representante para disputar a repescagem contra a seleção da UEFA, obrigatoriamente o vencedor do grupo 9 das eliminatórias européias.

Uruguai e Argentina carimbaram o passaporte ao vencerem os grupos 1 e 2, respectivamente. Já no grupo 3, Chile e Peru precisaram do jogo extra para decidir quem iria disputar a repescagem contra a União Soviética.

No dia 05 de agosto de 1973, chilenos e peruanos entraram em campo no estádio Nacional de Montevidéu (campo neutro) para a partida extra. Vitória chilena por 2 a 1.



Pouco mais de um mês depois, no dia 11 de setembro de 1973, um golpe de estado encabeçado pelo general Augusto Pinochet e que fora articulado conjuntamente por oficiais da marinha e do exército chileno, com apoio militar e financeiro do governo dos Estados Unidos e da CIA, bem como de organizações terroristas chilenas, como a Patria y Libertad, de tendências nacionalistas-neofascitas, derrubaram o presidente eleito democraticamente Salvador Allende, esquerdista e portanto alinhado com a União Soviética.

Este era o cenário em que Chile e União Soviética iriam disputar a repescagem. Na primeira partida, no dia 26 de setembro de 1973 em Moscou, 0 a 0. Tudo seria decidido no segundo jogo, marcado para ocorrer no dia 21 de novembro de 1973 no estádio Nacional de Santiago. Contudo, na época, já se sabia que o estádio vinha sendo palco de atrocidades realizadas pelo novo regime contra seus opositores, sobretudo militantes de esquerda, que lá ficavam detidos, eram interrogados, torturados e em alguns casos, executados.

As autoridades soviéticas emitiram um comunicado à FIFA no qual se anunciava que a URSS não jogaria a partida num estádio que vinha servindo de campo de concentração. Os soviéticos pediram que a partida fosse disputada em campo neutro, mas a FIFA desconsiderou as petições, apesar de uma delegação internacional ter visitado o estádio e ter testemunhado os presos no campo.

Para sacramentar que foi a URSS quem fugiu da disputa, os chilenos mantiveram o jogo. Num domingo ensolarado, o Estádio Nacional teve seus prisioneiros retirados e cerca de 20 mil torcedores ocuparam as arquibancadas. A “partida” durou apenas até o “gol” de Francisco Valdez. Em janeiro de 1974, a FIFA oficializou a vaga chilena numa votação especial. Na copa, o Chile não se deu bem. Perdeu um jogo, empatou dois e foi eliminado. A jornada da seleção acabou aí. O mandato de Pinochet se estenderia até 1990.


Até hoje este evento é considerado uma das maiores manchas na história da FIFA.

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